
'Nova vida para velhos fantasmas' é o mote do Teatro Oficina para nos encontrarmos nos próximos meses
Novidades como o programa “Brevemente”, a iniciativa “Berçário”, o novo modelo das OTO - Oficinas do Teatro Oficina, o projeto “All Tomorrow’s Parties” do coletivo SillySeason, e a estreia da nova criação do Teatro Oficina juntam-se às continuadas "Leituras do Teatro Oficina", "Ensaios de Mesa", “Sem Rede”, “Hipertexto” e podcast “Papagaios na Cloud” nas propostas da companhia vimaranense para os últimos meses de 2025.
No último quadrimestre deste ano, o programa desenhado pelo Teatro Oficina continua a propor mais do que a ilusão: propõe aquilo que ela pode revelar. Sob a direção artística de Bruno dos Reis, diretor artístico convidado para o biénio 2025-2026, a companhia mantém várias propostas que tiveram grande sucesso no quadrimestre transato, como as “Leituras do Teatro Oficina”, o “Sem Rede” e a “Criação Crítica”, e acrescenta novas rubricas, como o “Brevemente”, em parceria com a Associação Convívio, a nova iniciativa intitulada “Berçário”, bem como a estreia da nova criação.
"O Teatro é uma máquina de aparições e de fantasmas. Podemos retirar-lhe o palco, a palavra, a razão, que a sua fundura será sempre essa, contra o paradoxo de encontrarmos nele uma fonte de criação. Não é uma fé que lhe depositamos, é uma responsabilidade que frequentemente lhe exigimos: a de que não seja um mero reflexo, a de que também aponte uma luz." (Bruno dos Reis)
O próprio apronta-se a acrescentar que "Surge, apesar disso, uma pergunta cada vez mais clara: se os fantasmas à nossa frente são tão translúcidos, porque é que não é através deles que vemos o nosso futuro?" Desta forma, o quadrimestre agora lançado é esse espaço liminar: um que tenta desapegar-se do passado, sabendo que se relacionará, inescapavelmente, com ele.
As "Leituras do Teatro Oficina" terão como convidados Tânia Dinis (a 30 de setembro), os artistas que terão o acompanhamento de Lígia Soares no âmbito do programa "Criação Crítica" (a 28 de outubro) e, por fim, Nuno M (a 18 de novembro). Vão acontecer ora no subpalco, ora na teia do Grande Auditório do CCVF, numa altura em que este espaço completa 20 anos.
E fora do Centro Cultural voltam a surgir os "Ensaios de mesa" em outubro e novembro, desta volta com os artistas Carminda Soares, Maria R Soares e Raimundo Cosme, que, em conjunto com a equipa da Educação e Mediação Cultural d'A Oficina serão levados cada um por seu turno a jantar em casa de um vimaranense, que oferecerá o jantar e convidará quem quiser para a mesa, sendo a encenação do anfitrião. E o artista, em retorno, oferecerá uma mostra do seu trabalho, os seus métodos de criação, e o mais que lhe conseguirem pedir. Porque o Teatro é uma forma de ver, mas também é uma forma de nos vermos uns aos outros.
No “Sem Rede” desmonta-se o fantasma do sucesso, onde já pudemos conhecer, em formato de performance, o espetáculo "Romance" de Lígia Soares (22 de setembro), e iremos ter a oportunidade de conhecer também o espetáculo de Rui Paixão (4 de novembro), com a "falha" como ponto comum entre ambos. Se foram as expectativas que saíram goradas; se a metodologia não foi a ideal ou se, noutro tipo de entendimento, falhar foi mesmo o melhor que podia ter acontecido. Afinal, errar é a condição natural da errância, e sem procura não há possibilidade de criação.
No novo programa “Brevemente”, o Teatro Oficina desafia alguns criadores, com especial enfoque nos jovens vimaranenses, a apresentarem textos breves e apenas brevemente preparados. Podem ser textos ainda em criação, porque o que aqui interessa é a pressa de os colocar à prova da interpretação. A 11 de outubro (com Zé Ribeiro e Eduardo Corono), a 22 de novembro (com João Tarrafa e Beatriz Marinho) e a 20 de dezembro (com Rui Spranger, Mara Adelaide e Ricardo Pinho), teremos o privilégio de assistir a dois textos por noite na quase septuagenária Associação Convívio, que assim abraça este programa.
Outra das principais novidades diz respeito às OTO - Oficinas do Teatro Oficina que vão assumir um modelo mais capacitador, passando a dividir-se em diversos momentos de âmbitos manifestamente diferentes: as OpTO, que são módulos preparatórios destinados a conteúdos iniciáticos; as OcTO, dedicadas a módulos complementares lecionados por artistas de diferentes especializações, destinadas tanto a formandos amadores como a profissionais; e as OrTO, oficinas recursivas que trabalharão a partir de conteúdos já lecionados para levantarem um exercício final. E ainda as OiTO, dirigidas à infância, onde, a partir da teatralidade da imagem, e recorrendo a dispositivos ligados ao universo afetivo, as crianças serão convidadas a organizar, manipular e encenar imagens, palavras e sons. Está agendada para o próximo dia 29 de setembro, às 19h00, no Pequeno Auditório do Centro Cultural Vila Flor, uma apresentação que servirá para esclarecer todos os interessados relativamente ao plano para 2025/2026.
Na senda do apoio à criação, o Teatro Oficina também vai lançar uma nova iniciativa, o “Berçário”, em parceria com programa para as artes performativas do Centro Cultural Vila Flor, para o vindouro ano de 2026, e que visa apoiar os mais jovens criadores vimaranenses. O objetivo é acompanhar, técnica e teoricamente, as primeiras encenações dos artistas, durante as semanas de trabalho que precedem a estreia. De igual maneira, pretende-se que os participantes recorram ao Balcão de Apoio à Criação do Município de Guimarães, de forma a desenvolverem competências nas áreas teóricas relacionadas com a preparação de candidaturas a apoios, tanto para a circulação do respetivo espetáculo como para a criação de sucedâneos. O modelo de concurso para 2026 será lançado com a estreia de uma proposta piloto, o espetáculo “És igual à tua mãe”, criado pelo jovem coletivo vimaranense Totentanz, que acontece de 22 a 24 de outubro, no Espaço Oficina.
A outro nível, e também em diálogo com o programa do Centro Cultural Vila Flor, o Teatro Oficina vai acolher o projeto “All Tomorrow’s Parties”, do coletivo SillySeason. “All Tomorrow’s Parties” nasceu em Lisboa, da necessidade de apoiar artistas em início de percurso. Em 2025, para a sua 6.ª edição, terá a oportunidade de apresentar seis artistas sediados na região norte, que tenham como vontade comum a experimentação livre e urgente. Durante 13 dias, os artistas ocuparão o Centro de Criação de Candoso e o Espaço Oficina, com vista a construírem distintos objetos artísticos, na senda de um discurso cada vez mais consciente, politizado e independente. Como missão, o coletivo SillySeason, em articulação com o Teatro Oficina e o Centro Cultural Vila Flor, propõe-se a dar espaço, visibilidade e condições de criação, visando a promoção de um pensamento que considere urgente e que dê forma e representatividade a diferentes linguagens. A open call para este projeto já se encontra abertas e as candidaturas podem ser efetuadas até 28 de setembro.
Nos últimos meses deste ano, o Teatro Oficina vai ainda transformar alguns modelos: as conversas do podcast “Papagaios na Cloud” passarão a ser transmitidas na Rádio Universitária do Minho nos dias 10 de outubro, 14 de novembro e 12 de dezembro, das 20h00 às 21h00. Também o “Hipertexto” irá mais longe, depois do sucesso da experiência durante os Festivais Gil Vicente. Contando com os preciosos parceiros Coffeepaste, Comunidade Cultura e Arte, e Gerador, neste quadrimestre o “Hipertexto” terá diferentes artistas a escreverem em conjunto (Beatriz Wellenkamp Carretas e Nuno M Cardoso, Lara Mesquita e Marta Bernardes, Inês Barahona e Jorge Palinhos), e em formato de diálogo, a partir de espetáculos que terão a oportunidade de ver não só no Centro Cultural Vila Flor, mas também no Teatro Cine em Torres Vedras e no Teatro Constantino Nery em Matosinhos, que se juntam assim a esta viagem.
Sobre a estreia da nova criação do Teatro Oficina que irá acontecer a 13 de dezembro no Centro Cultural Vila Flor, Bruno dos Reis ainda não desvenda muito: “Insondável ainda será a criação que levaremos à cena no final do ano, no Grande Auditório de Guimarães que está a fazer vinte anos. O punhado que faremos dela, no futuro, será um dia matéria do passado, e não há nada mais teatral do que isso. É a natureza de seguir em frente enquanto o mundo nos escapa das mãos: agarrem-nas vocês. A melhor memória será sempre isso."
A programação completa pode ser consultada online em www.aoficina.pt – onde é possível verificar as formas de acesso e participação nas várias atividades – e acompanhada nas redes sociais do Teatro Oficina.