

Festival de Canto Lírico assegura quatro espetáculos até 2026.
O Centro Cultural Vila Flor foi o local escolhido para a apresentação dos quatro espetáculos que vão compor o novo ciclo do Festival de Canto Lírico "O Corpo e o Poder". Evento organizado pela ASMAV conta com a colaboração da Associação Setúbal Voz, Orquestra do Norte, A Oficina e os Municípios de Setúbal e Guimarães.
O Festival de Canto Lírico 2025/2026 vai decorrer entre as cidades de Guimarães e Setúbal e será marcado pelo regresso de obras originais de ópera à descentralização da principal sala de espetáculos de uma das mais complexas vertentes artísticas da contemporaneidade. Na apresentação do cartaz marcaram presença os responsáveis pelas entidades envolvidas no projeto como Paulo Lopes Silva do Município de Guimarães, Francisco Teixeira da ASMAV, Jorge Salgueiro da Setúbal Voz, Fernando Marinho da Orquestra do Norte.
O projeto, que começou por ser uma celebração da música, da voz e da lírica operática, consumou-se, em 2023 e 2024, como um roteiro bienal de celebração e de apresentação da ópera, dando a Guimarães, em parceria com a Associação Setúbal Voz, um roteiro qualificado e único da apresentação da ópera contemporânea em Portugal, escrita e composta original e expressamente para este projeto.
A tetralogia apresentada, sob o título "O Corpo e o Poder - O Artifício Operático como Processo Anlítico", financiado nacionalmente pela Direção Geral das Artes, através do Programa de Apoio Sustentado às Artes - Música e Ópera, parte do princípio que a ópera é o apogeu do teatro e que o teatro é uma transposição artística, criação do mundo, não recriação do real, nem a sua imitação. Foi através dessa transposição que a ópera ganhou competude criativa e criadora, quando o texto passa a canto, transubstanciando-se numa voz, plena de artifício artístico, resultante de uma técnica de canto, o canto lírico, desenvolvido durante séculos.
LEONOR E BENJAMIM
21 de junho 2025
21h30
CCVF
Libreto: Humberto Santana e António Cabrita
Música: Jorge Salgueiro
Encenação Jorge Salgueiro
SINOPSE
Lisboa 1506. Leonor e Benjamim são adolescentes apaixonados: ela de uma família católica tradicional; ele de uma família de cristão-novos, de origem judaica. Enquanto Portugal prospera com o comércio marítimo das Índias, a fome e a peste assolam a cidade, deixando-a à mercê do fanatismo religioso que, a 19 de abril, provoca o massacre de milhares de judeus. O romance dos jovens é ceifado na devastação mas Leonor sobrevive para descobrir que o amor transcende a morte.
AGUSTINÓPOLIS
22 de novembro 2025
21h30
CCVF
Libreto: Miguel Jesus, a partir de textos Augustina Bessa Luís
Música: Jorge Salgueiro
Encenação: João Brites
SINOPSE
Em adulta, Agustina tinha a seu lado um grande espelho, como o das bailarinas, e nele via passar as pessoas, umas vestidas com peles de lobo, outras com fatos de cerimónia , outras andrajosas; umas sem cabeça, outras sem alma. Não caminhavam, davam cambalhotas, como no circo, espreitavam pelas fechaduras, e tremiam de medo e de frio (in Era Outra Vez, Mónica Baldaque). Todas estas figuras em busca dum sentido para as suas vidas, assustam-se, gritam, cantam, sussuraram, zangam-se, abraçam-se, revoltam-se, apaziguam as suas pulsões, mais ou menos controláveis, desenhando percursos ora retilíneos de vai e vem, ora curvilíneos que ou se expandem ou se retratam centrípetos quando se refugiam na colmeia.
EU SOU ALMA
21 de março 2026
21h30
CCVF
Libreto: Diogo Faro
Música: João Malha
Encenação: Iolanda Rodrigues
SINOPSE
A menina palestina de 12 anos que perdeu toda a família num ataque israelita a Gaza. Alma e Tarazan, o irmão de 18 meses, morto junto com a restante família, num bombardeamento que atingiu o edifício onde estavam abrigados, estão juntos. Uma viva e o outro morto. Num vídeo gravado por um socorrista palestino, um grito surge debaixo de pilhas de escombros de cimento. "Eu sou Alma, não me ajude primeiro, ajude a minha mãe e o meu pai. E, por favor, ajude o meu irmão Tarazan. Ele é um bebé. Tem 18 meses."
PRISCILIANO
19 dezembro 2026
21h30
CCVF
Libreto: Francisco Teixeira
Música: Anne Victorino d'Almeida
Encenação: Jorge Salgueiro
SINOPSE
O priscilianismo constitui uma das principais heresias cristãs da alta idade média peninsular, tendo desencadeado um importante desafio à proto-ortodoxia católica de então, vindo-se a extinguir no século VI, mantendo apesar disso persistentes vestígios culturais da vivência cultural e religiosa do "mundo" luso/galaico. Constituindo uma forma autóctone de gnosticismo, cujo protagonista foi Prisciliano de Ávila (Gallaecia - 340 - 385/386), em que cada cristão, podia receber diretamente do Espírito Santo os dons da inspiração divina e do profetismo religioso, o priscilianismo foi o percursos de uma igreja democrática, da igualdade entre homem e mulheres, do monaquismo cristão, da separação entre religioso e o secular, do culto na natureza, bem como do estabelecimento da diferença entre o religiosidade esotérica e exotérica. Pisciliano e os seus apoiantes foram decapitados em 386 d.C. (em Treverorum a atual Tréveris, na Alemanha), depois de selvaticamente torturados, numa antecipação do que viriam a ser os tempos negros da inquisição. O priscilianismo desenvolveu-se no Minho e na Galiza, de onde Prisciliano era natural. A sua origem geográfica é claramente minhota e galaica tendo, sem dúvida alguma, percorrido, em tempos ancestrais, estes espaços. Prisciliano foi o primeiro cristão morto pela intolerância religiosa do catolicismo emergente. Contar, romanescamente, a epopeia priscilianista, numa mistura de religião, política e amor profano são os objetivos desta ópera.