
Grammy português aplaudido de pé no Festival do Fado em Guimarães
Guimarães, cidade Património Cultural da Humanidade, recebeu um memorável espetáculo de Carlos do Carmo, uma das referências nacionais do fado, Património Imaterial da Humanidade. Artista não poupou elogios a Guimarães e aos vimaranenses, por saberem «cuidar da sua cidade».
Cerca de um milhar de pessoas assistiu, na Plataforma das Artes e da Criatividade, ao concerto protagonizado pelo fadista Carlos do Carmo, recentemente premiado com um Grammy, distinção única nunca conseguida por um músico português, num espetáculo realizado no âmbito do Festival do Fado, evento promovido pelo Município de Guimarães e pela cooperativa A Oficina.
“Bairro Alto”, “Canoas do Tejo”, “Lisboa Menina e Moça”, “Gaivota” ou “Estrela da Tarde” foram alguns dos êxitos interpretados, na hora e meia de espetáculo, por Carlos do Carmo, imensamente aplaudido pelo público com quem partilhou, durante o concerto, histórias e curiosidades da sua carreira, sobretudo de episódios relacionados com a gravação dos seus 32 álbuns, um terço deles gravados ao vivo.
“Um homem no país”, de 1983, com 13 temas, é o trabalho com o maior número de músicas gravadas, 12 das quais de autoria de José Carlos Ary dos Santos, autor da letra do tema “Loucura”, primeira canção que Carlos do Carmo gravou na sua carreira e que escolheu para encerrar o seu concerto em Guimarães. «Este foi o último fado que Ary dos Santos escreveu antes de falecer», salientou o fadista, dirigindo igualmente palavras de afeto para Alfredo Marceneiro e Júlio de Sousa, «craques com feitio difícil, mas que gostavam de ensinar», ressalvou.
Aos 74 anos e 50 de carreira, com mais de um milhão de discos vendidos, Carlos do Carmo, acompanhado por José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola de fado) e José Marino de Freitas (viola baixo), apresentou-se neste concerto para homenagear o fado, uma «música simples e uma canção especial» que o próprio gosta de «sentir em total silêncio».
«Durante 20 anos, cantei na Casa de Fados dos meus pais! Já percorri o Mundo e gosto de sentir os silêncios de cada uma das pessoas. O silêncio nunca é igual; é diferente em cada espaço, gosto de sentir o canto da alma e o espírito de cada um. Amo tanto esta canção! Portugal tem coisas boas e o fado faz-me sentir orgulhoso de ser português», acrescentou, enquanto os acordes da canção seguinte eram interrompidos no público por uma voz masculina que, a solo, adaptando um tema de António Variações, entoou: «Todos nós temos Carlos do Carmo na voz / E temos na sua voz / A voz de todos nós!». «Mas canta afinadinho…», retribuiu o fadista, em jeito de agradecimento ao fã.
E MAIS CURIOSIDADES...
Sempre em tom familiar, voltou a assumir o papel de um contador de histórias. E revelou que a letra do tema “Eu Canto”, da poetisa brasileira Cecília Meireles, foi descortinada nas páginas de um jornal de Felgueiras, na «resistente imprensa local da qual é assinante e que ainda publica uns poemas». O tema faz parte do disco “Nove Fados e uma Canção de Amor” e tem música de António Vitorino de Almeida, «um génio que a compôs em dois dias», confidenciou, antes de fazer publicamente outro elogio:
«Obrigado por Guimarães existir, mas obrigado mesmo! Não, não são palavras de circunstância. Já estou velho para dizer coisas para agradar. Digo o que me apetece e não quero saber. É um prazer passear nestas ruas, uma cidade cuidada, uma cidade viva, com pessoas que exibem orgulhosamente as suas janelas e varandas e que cuidam da sua cidade! Infelizmente, não fui ao Centro Histórico, porque o tempo não permitiu. Espero fazê-lo numa outra oportunidade. Não, estas palavras não têm nada a ver com o querer ser simpático…», reafirmou Carlos do Carmo, figura maior da música nacional e um dos mais genuínos e populares fadistas da sua geração.
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